sexta-feira, 26 de julho de 2013

Um atropelo, e eu pelo meio


Estou, cada vez mais, convencida de que a modernidade pode atrapalhar as nossas vidas. Experimento este sabor, que por vezes amarga, todos os dias...e não há como fugir dele. Acreditem: não há. Esta visão de mundo inaugurada precária e sabiamente por Descartes, não para de se alterar, renovar...e por hora, acho enlouquecedor.

Tenho a minha vidinha invadida por diversos sentimentos, alheios a mim, mas que tomo como meus...basta ligar o computador, pegar no telemóvel...dar atenção à TV. Esta semana, já fui assombrada por um ataque de tubarão, com imagens escandalosamente escabrosas (um viva aos fabulásticos smartphones!), um acidente ferroviário aterrador, uns quantos pedidos de ajuda para pessoas doentes ou em estado de carência absoluta, e um blog, ou melhor, dois blogues que falam sobre a dor de perder um filho. Já chorei, já remexi as minhas gavetas todas, e até perdi um bocado de sono. Tudo isto, porque o mundo moderno me permite estar próxima do que não estou verdadeiramente. Me faz ser omnipresente. E mesmo que eu perca o telejornal, as malditas histórias estão perpetuadas na web, e são desmedidamente partilhadas e repartilhadas, numa corrente frenética de fome pelo outro. São tão constantes e profundas as transformações, e é tão gigante a velocidade com que a informação viaja e ganha força...dá o que pensar.

Por outro lado, há o belo brilho da moeda que é virada. Neste mundo louco e acelerado, onde tudo é de todos e é cada vez mais, descubro gente fantástica, lugares longínquos, histórias de esperança e vitória...descubro que há um grupo de mães como eu. Descubro que posso ajudar a divulgar coisas, casos e causas. Descubro que posso sair do meu mundo todos-os-dias. Que posso vestir outras peles, que posso crescer, conhecer e aprender. Que posso ser mais do que sou. Que posso sonhar com outras realidades, e por vezes, me sentir amargurada com algumas. E descubro, nos dias a seguir, que cresço com isto. Que fico maior e mais poderosa cada vez que abro as minhas janelas. Que olhar para "o outro" pode ser saudável, mesmo que num ritmo de fórmula 1. Mas atté entendo quem opta por nem abrir determinado link, por mudar o canal da TV...é uma capa de protecção que se veste, e embora necessária, também pode cegar e fazer o indivíduo mingar à luz dos tempos de hoje. Por isso, vou abrindo cada pedaço de mundo, encarando cada história, e gerindo cada partilha e cada sentimento que brota.

Se por um lado faço queixas por estar enterrada nesta grande confusão, por outro, obviamente valorizo e bato palminhas para esta constante (re)construção da cultura, dos artefactos tecnológicos, da política, da arte clássica, da anti-arte, da arte pela arte...que no espaço de um segundo, segue do local para o global, parte da objectividade rumo ao ficcional e ao virtual.

No fundo, somos todos uns Nietzschenianos. Apaixonados pelo moderno, pelas rupturas, pelo novo, pelo atropelo de ideias. Porque o bicho humano é tão louco e complexo, que só faz sentido existir assim: sempre a evoluir...à velocidade da luz.

#desabafoparacontinuarnestemundo

P.S: Este blog e Este outro são uma leitura difícil, dorida, bela e engrandecedora.

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